Faz tempo demais que as coisas não são diferentes. Anos. Alguns poucos, mas anos. Anos da mesma coisa. Do mesmo desinteresse. Sou sempre eu. Eu, eu, eu, eu, eu. Eu que chamo. Eu que insisto. Se não eu, não é ninguém. Não tem nada. Segue o jogo. Próximo! Olha, sei que já errei bastante, mas não acha que já sofri o suficiente? Não sou de ferro. Longe disso. Sou, no máximo, de plástico. Um plástico já bem contorcido, surrado, daqueles que não dá nem para reciclar direito. Para não ser mentiroso, digo que também tive meus momentos. Mas, ora, de que adianta se tive o tanto de infelicidade? E até mais? De que adianta me dar coisa boa para logo depois me tirar e me deixar num lugar pior do que eu estava antes? É justo? Não acho que seja. É a mesma coisa todas as vezes. Cansa. Dar a cara a tapa cansa e chega uma hora que toda sua cara já está estapeada. E mesmo que você queira, não tem mais espaço. O que faço então? Arranjo outra face? Crio uma nova? Alugo em algum lugar?
Eu só queria um pouquinho de tranquilidade. De paz. De algo recíproco. Não me importo de dar minha cara a tapa, não mesmo. Mas quero que não seja em vão, sabe? Quero que seja pra alguém que se importe. Que pergunte como foi meu dia e fique ouvindo minhas bobagens e minhas piadas e minhas reclamações. Que pense em mim com carinho. Que me coloque lá em cima, nas prioridades. Que me faça sentir como se eu fosse importante. Que não me deixe aqui, dançando com a solidão, já que não tenho outro par. Não peço muito, disso tenho certeza.
É triste perceber que tanto tempo já passou e que, mesmo assim, pouco mudou. Tenho só mais umas experiências para contar. De resto, é o mesmo. Se eu ler as coisas que escrevi no passado, com certeza irei achar diversas semelhanças com o presente. Parece que não saí do lugar. Que fiquei preso no tempo. Se eu quero ir pra frente, não consigo. Agora mesmo estou imaginando quais alternativas tenho, sabe, para quando tudo, inevitavelmente, der errado. E eu voltar à estaca zero novamente. Pessimista? Acho que não. Realista, eu diria (clichê, vá embora!). Tudo bem, sou meio dramático e exagerado, mas acho que quando vou percebendo os sinais, geralmente é porque algo já não anda bem. E, dali pra frente, é só ladeira a baixo. É a terceira ladeira nesse meio tempo, não é? É. A primeira foi um pouco mais longa do que o esperado, mas enfim chegou no fim. A segunda pareceu mais uma montanha-russa do que qualquer coisa, mas sobrevivi. Agora, essa eu já não sei como classificar. Para falar a verdade, não sei se realmente já estou nessa ladeira. É difícil dizer. Muito difícil. É uma interrogação enorme na minha cabeça. Estou perdido e não sei como lidar com isso. Eu não quero que essa seja outra ladeira, mas parece que é. Tudo bem, tudo bem, você me pegou. Como já disse, sou exagerado, e tudo pode não passar de uma grande trama da minha cabeça. Mas, como posso saber? Não há placas no caminho, muito menos sinais. É tudo escuro. Não dá pra dizer se a estrada já está acabando ou se eu nem paguei o pedágio ainda. A única coisa que dá indícios que ainda estou nela é quando passa um carro com o farol aceso. Por alguns segundos sei que a estrada ainda não terminou e que posso continuar. Claro, tal sentimento não dura mais que um suspiro.