sábado, 27 de dezembro de 2014

Quando bate aquela saudade.

                A conversa durava horas, boa parte com trivialidades que ambos gostavam de jogar fora. Ele adorava sua voz doce e gargalhada rica, gostosa de ouvir em qualquer momento. Então, era essencial manter aquela conversa fluindo, mesmo com bobagens. Finalmente, tocou no assunto que sempre o perturbava e também o que mais o instigava:
                - Sou doido por você.
                - Como assim, menino?
               - É estranho, ora. Dá um negócio aqui quando o assunto é você.
                - Você sabe que não dá.
                - Mas, Capitu, eu tô com uma vontade danada de te entregar todos os beijos que eu não te dei.
                - Não faz assim. Eu gosto de você, mas as coisas são complicadas, como bem sabes.
                - E o que eu faço com essa saudade, então? Saudade desses olhos tão gigantes e a boca tão gostosa. Eu não vou aguentar.
                - Claro que vai, garoto! Eu hein. Nós dois sabíamos muito bem do que viria.
                - Sabíamos, claramente! Mas não posso simplesmente te deixar sair pela porta!
                - Nós nem estamos no mesmo cômodo, para de ser dramático.
                - Você me entendeu!
                - Claro que te entendi. E quero que você entenda o quão difícil é pra mim dizer tudo isso.
                - Eu gosto é do estrago e você fez exatamente assim.
                - E aí faríamos o que, meu bem? Eu nem sei o que eu quero pra mim mesma! Como posso te dar a certeza de algo que nem sei se existe?
                - Deixa acontecer, morena! Não me importo em ver a idade em mim.
                - Mas eu me importo! O que guarda o amanhã, você sabe?
                - Claro que não, ninguém sabe!
                - E como podes ter tanta confiança que isso vai durar?
                - Não tenho.
                - Então do que está falando?
                - Não quero pensar no amanhã, Capitu. Quero pensar no hoje. E hoje eu penso em você.
                - A vida é complicada. Não é assim tão fácil.
                - Claro que é. Eu quero você. E você bem me quer.
                - Não faz sentido a gente ficar juntos. É muita barreira, muita complicação, não gosto nem de pensar.
                - É disso que a vida é feita, ora essa! Dificuldades e tudo mais. Por isso quero tanto você. Anda, senta aqui do lado e tira logo a roupa.
                - Como é?
                - Esquece o que não importa e vem logo.
                - Desde quando você é tão rude?
                - Só quero poder acordar ao teu lado e dizer que te amo.
                - Hein? Como pode dizer coisa tão séria assim, tão cedo e tão repentinamente?
                - Não posso? Vou guardar isso pra que? É a pura verdade.
                - Você não espera que eu responda, não é?
                - Claro que não, perderia a graça! Prefiro não saber de nada. Prefiro só te ter aqui, isso já me basta.
                - Tudo isso é muito complicado.
                - A vida é complicada.
                - Você é complicado.
                - Você é complicada.

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