A conversa
durava horas, boa parte com trivialidades que ambos gostavam de jogar fora. Ele
adorava sua voz doce e gargalhada rica, gostosa de ouvir em qualquer momento.
Então, era essencial manter aquela conversa fluindo, mesmo com bobagens. Finalmente,
tocou no assunto que sempre o perturbava e também o que mais o instigava:
- Sou doido por você.
- Como assim, menino?
- É
estranho, ora. Dá um negócio aqui quando o assunto é você.
- Você sabe que não dá.
- Mas, Capitu, eu tô com uma vontade danada de te entregar todos os beijos que
eu não te dei.
- Não faz assim. Eu gosto de você, mas as coisas são complicadas, como bem
sabes.
- E o que eu faço com essa saudade, então? Saudade desses olhos tão gigantes e
a boca tão gostosa. Eu não vou aguentar.
- Claro que vai, garoto! Eu hein. Nós dois sabíamos muito bem do que viria.
- Sabíamos, claramente! Mas não posso simplesmente te deixar sair pela porta!
- Nós nem estamos no mesmo cômodo, para de ser dramático.
- Você me entendeu!
- Claro que te entendi. E quero que você entenda o quão difícil é pra mim dizer
tudo isso.
- Eu gosto é do estrago e você fez exatamente assim.
- E aí faríamos o que, meu bem? Eu nem sei o que eu quero pra mim mesma! Como
posso te dar a certeza de algo que nem sei se existe?
- Deixa acontecer, morena! Não me importo em ver a idade em mim.
- Mas eu me importo! O que guarda o amanhã, você sabe?
- Claro que não, ninguém sabe!
- E como podes ter tanta confiança que isso vai durar?
- Não tenho.
- Então do que está falando?
- Não quero pensar no amanhã, Capitu. Quero pensar no hoje. E hoje eu penso em
você.
- A vida é complicada. Não é assim tão fácil.
- Claro que é. Eu quero você. E você bem me quer.
- Não faz sentido a gente ficar juntos. É muita barreira, muita complicação,
não gosto nem de pensar.
- É disso que a vida é feita, ora essa! Dificuldades e tudo mais. Por isso
quero tanto você. Anda, senta aqui do lado e tira logo a roupa.
- Como é?
- Esquece o que não importa e vem logo.
- Desde quando você é tão rude?
- Só quero poder acordar ao teu lado e dizer que te amo.
- Hein? Como pode dizer coisa tão séria assim, tão cedo e tão repentinamente?
- Não posso? Vou guardar isso pra que? É a pura verdade.
- Você não espera que eu responda, não é?
- Claro que não, perderia a graça! Prefiro não saber de nada. Prefiro só te ter
aqui, isso já me basta.
- Tudo isso é muito complicado.
- A vida é complicada.
- Você é complicado.
- Você é complicada.
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