Tô indo aí pra te
ver. É, já peguei o ônibus, tô chegando em uns dez minutos. Não é nada
especial, só quero te ver. Deixa disso, toma um banho de cinco minutos e desce
aí. Não, não estou brincando. É sério. Só porque estou rindo não quer dizer que
não é sério. Já disse, quero ver essa tua cara. Teus cabelos. Teu sorriso. Sua
bunda também, mas vamos fingir que não. Não precisa se arrumar toda, é só uma
visita. Escrevi algumas coisas pra você também. Não é nada. Ok, é uma carta. Não
sou nenhum Cainho, mas gosto de escrever. É claro que é à mão. Minha letra é
feia, mas dá pra entender. Não é longa, acho que tem duas páginas. Como assim é
bastante coisa? Tinha ainda muito mais coisa para falar, mas você sabe como
sou. Já tá pronta? Vou descer no próximo ponto. Pouco tempo? Você tem sorte que
eu liguei antes, podia muito bem só ter batido na sua porta. Tá vendo como sou
fofo? Rude? Olha quem fala. Estou indo aí só pra te ver, como posso ser rude?
Tá, estava com saudade da tua boca também, mas vamos tentar ser menos voláteis,
ok? Sim, sei falar chique. Você que me ensinou. Espero que esteja pronta. Já
desci. Ainda tem tempo, calma. Sua casa não é tão perto do ponto. Não me diga
que está passando maquiagem. Não é como se a gente fosse jantar. Só quero ver
como está seu cabelo. Como assim, já cresceu? Mas você tinha cortado curto há
algumas semanas, é impossível ter crescido tanto. Fez pacto com o diabo? Que
condicionador é esse? Deve ter custado uma fortuna. Não tem vergonha, garota?
Tudo bem, te perdoo. Estou chegando. Se a ligação cair, fui assaltado. Ué,
estou falando com você, não vou desligar. Relaxa, têm alguns policiais aqui. Já
desceu? No elevador? Você nem saiu de casa ainda, né? Você mente muito mal. Você
tem cinco minutos. É isso aí. Estou aqui em baixo. Anda logo. Seu prédio nem é
tão alto. Você ao menos saiu do quarto? Tudo bem, mas se não for você quando
essa porta do elevador abrir, eu vou gritar teu nome. Não seria louco? Quer
mesmo testar? Já sou louco por você, então não conte com meu bom senso. Estou
esperando, ainda. Já está aí dentro? Tudo bem, está descendo. Se não for você,
já sabe as consequências. Um homem privado de ver a amada por tanto tem licença
para cometer loucuras, meu bem. Chegou. Momento da verdade. Rufem os tambores.
E... quero muito te agarrar. É, aqui mesmo no elevador. Desde quando você é
tímida? Por que ainda estamos falando no telefone? Não sei. Ok, ok.
Satisfeita?
Satisfeita?
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