Já fora
feliz uma vez. A porta tinha sido fechada e os passos se desvairam naquela
tarde. Não sabia mais o que fazer. Tentou escrever, primeiramente. Tirar aquilo
tudo dos ombros, compartilhar com seu imaginário algo que ele já sabia e assim
por diante. Nada. Ainda sentia como se algo estivesse faltando (você, meu bem).
Procurou por outras pessoas que partilhassem seus problemas. Relatos pessoais e
histórias melancólicas. Nada. Tentara telefoná-la. Sua voz era um
tranquilizante natural para seus ouvidos. Como você se sentia, ma vie? Nada. Caixa postal. Todas as oito vezes. As
músicas não conseguiam mais confortá-lo. As melodias o incomodavam cada vez
mais, o que o fez perder seu maior aliado. A cada dia, ficava mais difícil.
Onde está você, querida? Suicidou-se, por fim. Encontrou um estado de paz,
sentindo-se livre para chorar e se amargurar, sem arrependimentos. Nada.
Acordou. Viu que eram uma hora da madrugada e percebeu que dormiu toda a noite.
Sem sono, começou a imaginar. Sonhar acordado. Lembrou de momentos que estavam
esfumaçados de seu passado, momentos em que ele se sentia plenamente feliz.
Chorou. Que mal faria? Ninguém estava olhando. Chorou por alguns minutos. E
dormiu. Dormiu com seu rosto molhado. Na tarde seguinte, tentou levar a vida.
Andou pela rua, observando as pessoas. Observou seus comportamentos, quem sabe
não via alguém triste? Nada. Olhou ao seu redor e somente encontrou pessoas
também levando a vida. Algumas poderiam ter estado na mesma situação que ele na
noite passada, mas hoje estavam lá. Caminhando. Como se nada tivesse
acontecido. E percebeu. Percebeu, então, que a vida era isso. Uma grande
máscara. Vestia-se sempre antes de sair pela rua. Ninguém veria seu rosto
amassado, ou seu olhar pesado. Vestiu-se. E viveu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário