Por toda
a vida fora alguém que imaginava as pessoas em luto pela sua ida. Imaginava
seus pais chorando, seus familiares lamentando a perda e seus amigos pensando
em como tinha morrido jovem. Porém, nunca realmente pensara em quando iria
morrer. A realidade bateu quando alguém próximo se foi, sem mais nem menos.
Caiu a ficha. Poderia ter sido ele. O luto tinha tomado conta de seus
pensamentos. Pensava como aquilo
poderia ter acontecido? Fora pego
de surpresa. Sua cama havia virado sua melhor amiga por um tempo, até que
lentamente se desse conta de que a vida continua. Continua? Resolveu fazer seu
testamento. Resolveu também escrever cartas para pessoas escolhidas pela parte
poética de seu cérebro. Aquelas pessoas com quem já tinha um íntimo maior. As
cartas eram escritas com as expressões das pessoas sendo imaginadas. Gostava de
imaginar que todos sentiriam sua falta. É claro que isso provavelmente não iria
acontecer, mas mesmo assim imaginava. Cada carta contava sua história com a
respectiva pessoa. Algumas tinham um quê a mais, outras eram breves. Três em
especial continham as palavras mais delicadas e harmoniosas que conseguia.
Alguns pedidos de desculpas - muitos - e algumas juras de amor. A última
deixara um buraco em seu peito. Fora difícil escrevê-la sem parecer
melancólico. Dissera que as coisas não deveriam ter terminado assim, mas quem
era ele para dizer o que o futuro o guardava? A carta terminava com as palavras
que mais marcaram seus momentos juntos. Chorara ao perceber que tudo aquilo
poderia acabar, assim, sem mais nem menos. Algumas lágrimas fincaram-se no
papel. Esperava que suas palavras conseguissem passar tudo o que sentia no
momento em que as colocara no papel. Por fim, guardou tudo em uma pasta. Iria
montar um esquema no qual, assim que partisse, fosse entregue aos devidos
destinatários. Intitulou a
pasta de "Quando
eu morrer..."
Bem vindo ao mundo,jovem.
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