Sentado,
ao lado daquele moço, percebeu como a vida era frágil - fechou o seu livro e se
perdeu em pensamentos. Todos naquele ônibus pareciam conformados com o fato de
poderem morrer a qualquer momento. Sem mais nem menos, o acaso poderia colocar
um fim a sua existência e a de todos naquele automóvel desengonçado. Algum
pedestre poderia passar de última hora na rua e desviar o trajeto do motorista,
fazendo com que batessem em um prédio e morressem com o impacto. Ou, até mesmo,
poderiam ser vítimas de um assalto malsucedido, culminando em uma carnificina
civil.
Mesmo
assim, todos levavam a suas vidas, sendo transportados até seus devidos
destinos.
Cada
passageiro que passava pelo "corredor da vergonha" (visto que recebia
a atenção de todos os desocupados do ônibus) procurava veemente por um lugar
vazio. Quando não achavam, ficavam ali em pé mesmo, ou eram agraciados por
alguém cedendo o seu lugar. E, essas ações despretensiosas de alguém que não
conhecia absolutamente nada do próximo - a não ser sua roupa - o intrigavam. De
que valia o exercício da moral, se não veria metade daquelas pessoas novamente,
quiçá em algum lugar pós-morte? Mas, aí, viu que isso bastava para a maioria
das pessoas: essa satisfação momentânea, essa lógica de melhorar o dia de uma
pessoa aleatória, sem que você ganhe nada.
Pensou o
motivo de sermos assim, o tal do sentimento que só os humanos possuem. Não
havia garantias de que a ação daria algum fruto posteriormente e muito menos de
que sairia de lá sem nenhum arranhão.
Mas,
entendeu, que essa era a vida, com toda a sua superficialidade. Em um momento
você está dando o seu lugar no ônibus para uma pessoa visivelmente cansada, e
no outro você é lançado do corredor, em direção à frente do veículo.
Ele morreu.
O outro passageiro,
não.
Simples assim.
O momento da vida,
num piscar de olhos.
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