quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Somos humanos, afinal?

Sentado, ao lado daquele moço, percebeu como a vida era frágil - fechou o seu livro e se perdeu em pensamentos. Todos naquele ônibus pareciam conformados com o fato de poderem morrer a qualquer momento. Sem mais nem menos, o acaso poderia colocar um fim a sua existência e a de todos naquele automóvel desengonçado. Algum pedestre poderia passar de última hora na rua e desviar o trajeto do motorista, fazendo com que batessem em um prédio e morressem com o impacto. Ou, até mesmo, poderiam ser vítimas de um assalto malsucedido, culminando em uma carnificina civil.
Mesmo assim, todos levavam a suas vidas, sendo transportados até seus devidos destinos.
Cada passageiro que passava pelo "corredor da vergonha" (visto que recebia a atenção de todos os desocupados do ônibus) procurava veemente por um lugar vazio. Quando não achavam, ficavam ali em pé mesmo, ou eram agraciados por alguém cedendo o seu lugar. E, essas ações despretensiosas de alguém que não conhecia absolutamente nada do próximo - a não ser sua roupa - o intrigavam. De que valia o exercício da moral, se não veria metade daquelas pessoas novamente, quiçá em algum lugar pós-morte? Mas, aí, viu que isso bastava para a maioria das pessoas: essa satisfação momentânea, essa lógica de melhorar o dia de uma pessoa aleatória, sem que você ganhe nada.
Pensou o motivo de sermos assim, o tal do sentimento que só os humanos possuem. Não havia garantias de que a ação daria algum fruto posteriormente e muito menos de que sairia de lá sem nenhum arranhão.
Mas, entendeu, que essa era a vida, com toda a sua superficialidade. Em um momento você está dando o seu lugar no ônibus para uma pessoa visivelmente cansada, e no outro você é lançado do corredor, em direção à frente do veículo.
Ele morreu.
O outro passageiro, não.
Simples assim.
O momento da vida,
num piscar de olhos.

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