sábado, 14 de março de 2015

Forgive me.

                A rua estava lotada de pessoas, todas saindo do mesmo local que nós. A maioria continuava residente no transe que lhes fora imposto, olhos perdidos e arregalados. Eu não era exceção, claro.  Éramos cinco, talvez seis, não me recordo. Lembro-me de poucas coisas, na verdade. Não estou dizendo que foi somente mais um dia qualquer, pois não foi, mas minha memória tem uma tendência a trair-me.
                Eu estava cansado, exausto de ficar em pé. Minhas panturrilhas alertavam-me um possível colapso, ignorado por mim. Parar e descansar não era uma opção, tamanha era minha empolgação com tudo o que tinha acontecido. Extremamente suado, com ainda algum resquício de energia, procurei por sua silhueta em todas as outras, na esperança de encontrar teu olhar. Por algum tempo, entristeci-me por pensar que nossos caminhos não mais se cruzariam. O que deveria fazer, gritar por teu nome? O desespero estaria assim tão estampado?
                Talvez estivesse escrito em algum lugar, mas por fim avistei-te. Não sei o que é, mas sempre que meus olhos encontram os seus, alguma coisa em mim desliga. Não mais que de repente, todas as minhas preocupações são dissolvidas. Meu coração acalma-se, ao mesmo tempo que sofre de arritmia (seria possível?). Foi-se o tempo em que eu tentava entender todos os seus efeitos sobre mim, somente deixando que exercesse seu feitiço sobre mim. Depois de toda essa montanha russa rotineira, cheguei perto de ti. Antes que percebesse minha presença, tive uma súbita vontade de analisar-te, dos pés à cabeça. Poupar-te-ei de todos os adjetivos que sempre uso para descrever-te e meramente direi que tu és uma única estrela em um céu nublado. Saboreei teus lábios, constantemente lembrando-me o quão dependente era de ti. Segui-te pela rua abarrotada, como quem procurava oxigênio para respirar. Nossos passos logo tornaram-se um só, mesmo com tantos buracos. O que mais poderia pedir?
                Deixei-te ir com um aperto em todo meu corpo. Minhas entranhas clamavam por mais, sentindo sua partida eminente. Olhei teus olhos uma última vez e ouvi palavras que até hoje assombram-me em noites como essa. Desnorteado com tamanha consternação, aceitei meu destino e beijei-te decisivamente. Um beijo demorado, que roubou tudo o que eu tinha e deixou-me desarmado. Observei seu olhar em mim e vi toda a tristeza também refletida. Desculpe-me por deixar-te partir.

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