A rua estava lotada
de pessoas, todas saindo do mesmo local que nós. A maioria continuava residente
no transe que lhes fora imposto, olhos perdidos e arregalados. Eu não era
exceção, claro. Éramos cinco, talvez
seis, não me recordo. Lembro-me de poucas coisas, na verdade. Não estou dizendo
que foi somente mais um dia qualquer, pois não foi, mas minha memória tem uma
tendência a trair-me.
Eu estava cansado, exausto de
ficar em pé. Minhas panturrilhas alertavam-me um possível colapso, ignorado por
mim. Parar e descansar não era uma opção, tamanha era minha empolgação com tudo
o que tinha acontecido. Extremamente suado, com ainda algum resquício de
energia, procurei por sua silhueta em todas as outras, na esperança de
encontrar teu olhar. Por algum tempo, entristeci-me por pensar que nossos
caminhos não mais se cruzariam. O que deveria fazer, gritar por teu nome? O
desespero estaria assim tão estampado?
Talvez estivesse escrito em
algum lugar, mas por fim avistei-te. Não sei o que é, mas sempre que meus olhos
encontram os seus, alguma coisa em mim desliga. Não mais que de repente, todas
as minhas preocupações são dissolvidas. Meu coração acalma-se, ao mesmo tempo
que sofre de arritmia (seria possível?). Foi-se o tempo em que eu tentava
entender todos os seus efeitos sobre mim, somente deixando que exercesse seu
feitiço sobre mim. Depois de toda essa montanha russa rotineira, cheguei perto
de ti. Antes que percebesse minha presença, tive uma súbita vontade de
analisar-te, dos pés à cabeça. Poupar-te-ei de todos os adjetivos que sempre
uso para descrever-te e meramente direi que tu és uma única estrela em um céu
nublado. Saboreei teus lábios, constantemente lembrando-me o quão dependente
era de ti. Segui-te pela rua abarrotada, como quem procurava oxigênio para
respirar. Nossos passos logo tornaram-se um só, mesmo com tantos buracos. O que
mais poderia pedir?
Deixei-te ir com um aperto em
todo meu corpo. Minhas entranhas clamavam por mais, sentindo sua partida
eminente. Olhei teus olhos uma última vez e ouvi palavras que até hoje
assombram-me em noites como essa. Desnorteado com tamanha consternação, aceitei
meu destino e beijei-te decisivamente. Um beijo demorado, que roubou tudo o que
eu tinha e deixou-me desarmado. Observei seu olhar em mim e vi toda a tristeza
também refletida. Desculpe-me por deixar-te partir.
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