domingo, 8 de março de 2015

Just to see your blue eyes see.

                Escuto alguns ruídos. Pés sendo arrastados. Camas sendo remexidas. O silêncio da madrugada proporciona uma tranquilidade que sempre desejei. Talvez exista uma cidade que seja assim: monótona, sem gritaria ou corridas para quem chega primeiro em tal lugar.
                Não pretendo ser famoso. Basta-me uma casa sossegada, uma esposa quem eu ame e esteja disposto a passar o resto da minha vida com. Dois filhos. Um gato e um cachorro? Os nomes podem variar, ainda não me decidi. Nada que uma discussão não resolva.
                Quero ganhar o suficiente para conseguir manter minha família confortável, em um bairro seguro e em uma casa de dois andares. Um lugar frio, longe desse calor que insiste em queimar-me todos os dias. Vizinhos com quem eu possa jantar e conversar trivialidades. Amigos nos quais eu possa ligar no fim do dia, para botar o papo em dia. Uma estante cheia de livros, para serem devorados por todos da casa. Um álbum de recordações, guardado na segunda gaveta do móvel da sala. Uma vida simples, para um cara simples.
                Dar um nome à minha esposa parece errado, mesmo que minha mente já tenha seus próprios planos. Aquela silhueta tem algum poder sobre mim, posso garantir.
                Ande, vamos lá. Pergunte-me qual seu nome. Eu sei que você quer saber. Vai. Tem certeza? Talvez você já saiba e só esteja tirando uma com a minha cara. Não? Nenhuma ideia? Tudo bem, então. Mas prometa-me que não dirá isso a ninguém, nem mesmo se perguntarem. Certo? Ok, tudo bem, acalme-se.
                Ela tem um corpo incomum, devo dizer. A primeira vez em que a vi, surpreendi-me com tamanha graciosidade em um jeans e moletom. Suas pernas eram boas de agarrar, assim como sua bunda (desculpe-me a franqueza!). Seus olhos, grandes, pareciam perdidos. O tom de mel dava ao seu olhar algo que eu jamais vira. Conseguia ser séria e ao mesmo tempo brincalhona, de um modo que enchia-me por dentro (tesão, talvez?). Sua boca, ligeiramente grande, dava um ar mais sexy à ela, à parte do olhar. Talvez ambos trabalhassem em conjunto para enfeitiçar-me. Sua pele de morena era a combinação ideal de tonalidades, fazendo com que eu perdesse-me por completo toda vez que a olhava. Seus peitos eram firmes, encaixavam perfeitamente em minhas mãos (assim como suas mãos, claro.).
                A parte que mais me assombra em madrugadas como esta, é seu sorriso. Seus dentes pareciam terem sido encomendados para ocuparem o interior de sua boca. Seguiam uma linha sem erro algum, de uma ponta à outra. Brancos como a bata do Papa. A obra exibia toda a sua devassidade, assim como toda a sua inocência. O som de sua risada acabava com todas as minhas preocupações, deixando tempo somente para apreciar um trabalho que somente posso atribuir à alguma entidade divina. Se eu tivesse a garantia de ver seu sorriso no fim de minha vida, a morte logo não seria algo tão assustador.
                Seu nome sempre me afeta, mesmo em diferentes pessoas. É um daqueles nomes que eu nunca pensei que fosse ter um impacto tão grande em minha vida. É uma surpresa boa, ao menos. Não saber quem irá mudar toda sua pacata vida. Um nome lindo, se bem quer saber. Talvez um nome que eu nunca vá esquecer. Nem as letras e nem todas as memórias e sentimentos que essas três vogais e três consoantes deram-me.
                Desculpe-me, tenho que ir dormir. Já está claro e preciso ter ao menos algumas horas de sono. Presumo que ainda queira saber seu nome. Acho que é justo. Se chegou até aqui, o mínimo que posso fazer é finalmente dizer. Mas somente responderei essa pergunta, nenhuma outra. Tudo bem por você?
                Capitu. Capitu é seu nome.

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