Escuto alguns ruídos.
Pés sendo arrastados. Camas sendo remexidas. O silêncio da madrugada
proporciona uma tranquilidade que sempre desejei. Talvez exista uma cidade que
seja assim: monótona, sem gritaria ou corridas para quem chega primeiro em tal lugar.
Quero ganhar o suficiente para
conseguir manter minha família confortável, em um bairro seguro e em uma casa
de dois andares. Um lugar frio, longe desse calor que insiste em queimar-me
todos os dias. Vizinhos com quem eu possa jantar e conversar trivialidades. Amigos
nos quais eu possa ligar no fim do dia, para botar o papo em dia. Uma estante
cheia de livros, para serem devorados por todos da casa. Um álbum de
recordações, guardado na segunda gaveta do móvel da sala. Uma vida simples,
para um cara simples.
Dar um nome à minha esposa
parece errado, mesmo que minha mente já tenha seus próprios planos. Aquela
silhueta tem algum poder sobre mim, posso garantir.
Ande, vamos lá. Pergunte-me qual
seu nome. Eu sei que você quer saber. Vai. Tem certeza? Talvez você já saiba e
só esteja tirando uma com a minha cara. Não? Nenhuma ideia? Tudo bem, então.
Mas prometa-me que não dirá isso a ninguém, nem mesmo se perguntarem. Certo?
Ok, tudo bem, acalme-se.
Ela tem um corpo incomum, devo
dizer. A primeira vez em que a vi, surpreendi-me com tamanha graciosidade em um
jeans e moletom. Suas pernas eram boas de agarrar, assim como sua bunda
(desculpe-me a franqueza!). Seus olhos, grandes, pareciam perdidos. O tom de
mel dava ao seu olhar algo que eu jamais vira. Conseguia ser séria e ao mesmo
tempo brincalhona, de um modo que enchia-me por dentro (tesão, talvez?). Sua boca,
ligeiramente grande, dava um ar mais sexy à ela, à parte do olhar. Talvez ambos
trabalhassem em conjunto para enfeitiçar-me. Sua pele de morena era a
combinação ideal de tonalidades, fazendo com que eu perdesse-me por completo
toda vez que a olhava. Seus peitos eram firmes, encaixavam perfeitamente em
minhas mãos (assim como suas mãos, claro.).
A parte que mais me assombra em
madrugadas como esta, é seu sorriso. Seus dentes pareciam terem sido
encomendados para ocuparem o interior de sua boca. Seguiam uma linha sem erro
algum, de uma ponta à outra. Brancos como a bata do Papa. A obra exibia toda a
sua devassidade, assim como toda a sua inocência. O som de sua risada acabava
com todas as minhas preocupações, deixando tempo somente para apreciar um
trabalho que somente posso atribuir à alguma entidade divina. Se eu tivesse a
garantia de ver seu sorriso no fim de minha vida, a morte logo não seria algo
tão assustador.
Seu nome sempre me afeta, mesmo
em diferentes pessoas. É um daqueles nomes que eu nunca pensei que fosse ter um
impacto tão grande em minha vida. É uma surpresa boa, ao menos. Não saber quem irá
mudar toda sua pacata vida. Um nome lindo, se bem quer saber. Talvez um nome
que eu nunca vá esquecer. Nem as letras e nem todas as memórias e sentimentos
que essas três vogais e três consoantes deram-me.
Desculpe-me, tenho que ir
dormir. Já está claro e preciso ter ao menos algumas horas de sono. Presumo que
ainda queira saber seu nome. Acho que é justo. Se chegou até aqui, o mínimo que
posso fazer é finalmente dizer. Mas somente responderei essa pergunta, nenhuma
outra. Tudo bem por você?
Capitu. Capitu é seu nome.
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