segunda-feira, 13 de abril de 2015

Rough hands.

- Você por aqui, chefe? Faz um tanto que não te vejo.
- Não dizem que o álcool tira as ilusões? Estou aqui para comprovar essa teoria.
- Ixi, o que aconteceu dessa vez?
- O de sempre, eu acho. Ela me desarmou todinho. Não me deu nem a chance de dizer não. E depois foi embora, de fininho.
- Então vai ser o de sempre também?
- Uhum. Um copo d’água com dois cubos de gelo.
- Aqui está. Posso perguntar uma coisa?
- Claro.
- Você vem nesse bar há quase dois anos. Toda vez que tem um problema, principalmente com relacionamentos. Imagino que esteja aqui para afogar as mágoas, correto? Porém, sempre que vem, pede somente um copo d’água e vai para casa depois de um tempo.
- Correto.
- Por que não pede uma bebida, digamos, mais forte?
- Nunca tive o gosto para bebida. São poucos os drinks que estão de acordo com meu gosto. Cerveja então, nem se fala. Mas acho que o principal motivo é que eu preciso sentir tudo isso.
- Como assim?
- Se eu chegasse aqui toda a vez que estivesse triste e tomasse um porre para ficar anestesiado e esquecer tudo, que graça teria? Preciso estar triste e preciso sentir a tristeza, sem procurar maneiras de simplesmente passar pela vida. Quero ser feliz, mas não antes de andar por todo o caminho até lá.
- E por que aqui?
- Venho aqui mais pelo sossego que tenho e, claro, sua companhia.
- Entendo. Então qual o problema de hoje?
- É baboseira, Tom. Tem certeza de que quer ouvir?
- Bom, você é o único cliente ainda aqui e o bar só irá fechar daqui a duas horas. Tenho todo o tempo.
- Então senta aí e bebe junto comigo.
- Já estou pronto. Qual o nome dela?
- Como sabe que o problema envolve uma garota?
- (...)
- Tudo bem, tudo bem. Mas não irei dizer seu nome. Um pseudônimo, talvez? Margô. Ela é morena, dos cabelos negros e olhos cor de mel.
- Não é a minha mulher, né?
- Talvez seja. Mas isso não vem ao caso.
- Certo. Vou prestar mais atenção ao chegar em casa. E se te encontrar na minha cama, espero que tenha uma boa explicação.
- Enfim. Ela é uma garota apaixonante (assim como sua mulher). Eu a conheço há pouco tempo, não mais que um ano, então é difícil ainda saber o que ela acha de nós. Mas gosto de pensar que coisas boas.
- Onde mora?
- Mora não muito longe daqui, pouco mais de trinta minutos de ônibus. Lembro até hoje da última vez em que fui lá. Ela me disse bem baixinho, como se, por alguns segundos, isso tivesse escapado da sua mente: “Essa semana demorou para passar.”. Foi maravilhoso, sabe? Perceber que, assim como eu, ela também queria que nossos encontros acontecessem. Os dias que antecediam minhas visitas eram sempre os mais difíceis. Eu mal conseguia prestar atenção em nada, se não a eminente hora em que eu iria ver seu rosto na minha frente. Analisando agora, não sei se isso foi bom ou ruim para mim. Mas posso afirmar que vê-la era sempre uma delícia.
- Imagino, então, que vocês não se veem mais?
- Em algumas ocasiões. Cada vez sinto que estou mais distante dela. Quanto maior é a minha vontade de vê-la, parece que menor é a chance disso acontecer. Ou por não estarmos destinados um ao outro. Ou por ela simplesmente não querer. Ainda não sei dizer qual das opções.
- O que irá fazer agora?
- Vou deixar rolar, ué. Você sabe que não dá para somente um fazer a coisa funcionar, então não vejo motivos para tentar. Não posso me dar ao luxo de ficar decepcionado com qualquer coisa, mesmo com toda a expectativa que eu coloco sobre tudo. Também sei ser meio talvez, meio que sei lá. Ficarei no meu cantinho de sempre, deixando as coisas tomarem seu rumo. Se por um acaso do destino, ficarmos juntos, ótimo, pulos de alegria. Caso não, tá tudo bem.
- E agora você está aqui, bebendo um copo d’água com gelo.
- Como o amor, depois do primeiro gole, é difícil deixar a bebida de lado. Por falar nisso, pode encher o copo.

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