quinta-feira, 23 de julho de 2015

I Remember.

                Era difícil compreender o que meus ouvidos tinham captado. Não ouvia tal voz rouca há mais de um ano, e agora ela estava ali, a poucos centímetros, sendo despejada em mim. O tom era um pouco diferente, mas ainda assim podia claramente notar a semelhante falha nas palavras. Não sei dizer por quanto tempo me calei e fitei o teto. Pude perceber que algumas infiltrações já se faziam presentes, assim como alguns poucos buracos. A pessoa que estava ao meu lado tinha muito pouco a ver com ela, mas sua boca emitia sons que criavam uma certa nostalgia ao meu redor. Encontrava-me em uma cama de solteiro, não muito longe dali. Havia alguém que conhecia tudo a meu respeito, inclusive em que posição eu dormia. Com sua cabeça encostada em meu ombro, esbravejava bobagens, essas tanto que me apaziguavam. O frio tomava conta do quarto, talvez pelo ar-condicionado sempre ligado, no alto da parede. Seu edredom se mostrava necessário, coisa que nunca reclamei. Horas a dentro, terminávamos em um silêncio absoluto, com nossas respirações reinando sobre as palavras. Era possível ouvir também o barulho da tevê, mesmo que mínimo. Eu sempre tinha que desligar, ao acordar no meio da madrugada, já que ela tinha medo de ficar no escuro. Mal sabia ela que eu também tinha.

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