Era difícil
compreender o que meus ouvidos tinham captado. Não ouvia tal voz rouca há mais
de um ano, e agora ela estava ali, a poucos centímetros, sendo despejada em
mim. O tom era um pouco diferente, mas ainda assim podia claramente notar a
semelhante falha nas palavras. Não sei dizer por quanto tempo me calei e fitei
o teto. Pude perceber que algumas infiltrações já se faziam presentes, assim
como alguns poucos buracos. A pessoa que estava ao meu lado tinha muito pouco a
ver com ela, mas sua boca emitia sons que criavam uma certa nostalgia ao meu
redor. Encontrava-me em uma cama de solteiro, não muito longe dali. Havia alguém
que conhecia tudo a meu respeito, inclusive em que posição eu dormia. Com sua
cabeça encostada em meu ombro, esbravejava bobagens, essas tanto que me
apaziguavam. O frio tomava conta do quarto, talvez pelo ar-condicionado sempre
ligado, no alto da parede. Seu edredom se mostrava necessário, coisa que nunca
reclamei. Horas a dentro, terminávamos em um silêncio absoluto, com nossas
respirações reinando sobre as palavras. Era possível ouvir também o barulho da
tevê, mesmo que mínimo. Eu sempre tinha que desligar, ao acordar no meio da
madrugada, já que ela tinha medo de ficar no escuro. Mal sabia ela que eu
também tinha.
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