Meus sonhos são
contraditórios. Neles, aparecem pessoas em que nunca vi, ou ao menos que não
lembro mais. E no meio de todos essas vultos desconhecidos, encontro olhos que
atraem os meus. Não por serem lindos e transparentes, mas por pertencerem às
pessoas que me fazem bem. Ou que me fizeram, em determinado momento. Fato é:
muitos nem se conhecem. Simplesmente me têm como pessoa em comum, sem qualquer
relação intrínseca entre si. Então, indago, por que todos se dão tão bem?
Aparecem sorrindo, tendo conversas que não me envolvem. Alguns nem levam em
conta que já sumiram da minha rotina. Eu imaginaria que esses teriam borrões em
seus rostos, como se minha miopia tivesse aumentado exclusivamente naquela
parte de seus corpos. Para minha surpresa, consigo enxergar com tamanha
precisão de que poderia jurar tê-los visto ontem mesmo. Suas feições estão
todas lá, detalhadas, com as pintas no lugar em que devem estar. Passam por
cima de tudo o que eu tenho guardado, e agem como nunca tivessem ido embora.
Pergunto-me se é isso de que um sonho é feito: um mundo paralelo, que acomoda
suas imaginações mais profundas, por mais impossíveis que pareçam. Um lugar
onde você observa caras velhas e relembra da tal da felicidade momentânea. Faz
até você acreditar que as coisas podem sim voltar a como eram antes, no perdão
e tudo mais. Alguns dizem que os sonhos são suas realidades, mas como se você
tivesse tomado todos os caminhos certos. Como se não houvesse erro, somente
acumulações de momentos passados. Nada te derrubou, e todos continuam onde
estavam, inertes. Não há magoas ou rancor. Amor nenhum foi perdido, mas
adicionado aos demais. Uma vida repleta de risadas e piadas sem graça. E faces
não esquecidas.
Eu acho injusto, na verdade. Dar
uma esperança que logo se dissolve.
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