Pouco
antes das luzes apagarem e as cortinas fecharem, sua voz me vem à cabeça. Talvez
um pouco rouca, com um resquício de sono. É uma voz serena, do tipo que te faz
sentir como se nada fosse impossível. Ouço você dizer coisas aleatórias, que
não correspondem ao caos que me circula. Nesse momento, procuro não me
arrepender de nunca mais poder te ver. Tudo o que me resta, nesses momentos que
antecedem o fim, é a sua voz. Abro espaço para as gargalhadas que provocam uma
grave falta de ar em mim. Perco o controle ao ouvir você se esperneando, fechando
os olhos e abrindo a boca. Uma risada escandalosa, tão contagiosa quanto o pior
vírus que existe. Uma risada que não leva em conta o que vem depois ou o resto
mundo. Pouco antes das luzes apagarem, a terra começa a tremer. Vejo vasos
caindo ao chão e as janelas rachando. Mais alguns segundos e tudo isso acabará.
Não poderei mais apreciar os sons das tuas palavras e nem a poesia do teu
canto. Estarei cercado de diversas coisas e tudo ficará em breu. Mas, ainda
assim, a última coisa que lembrarei será esta: sua voz logo pela manhã.
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