quinta-feira, 7 de julho de 2016

Supermassive Black Hole.

Pouco antes das luzes apagarem e as cortinas fecharem, sua voz me vem à cabeça. Talvez um pouco rouca, com um resquício de sono. É uma voz serena, do tipo que te faz sentir como se nada fosse impossível. Ouço você dizer coisas aleatórias, que não correspondem ao caos que me circula. Nesse momento, procuro não me arrepender de nunca mais poder te ver. Tudo o que me resta, nesses momentos que antecedem o fim, é a sua voz. Abro espaço para as gargalhadas que provocam uma grave falta de ar em mim. Perco o controle ao ouvir você se esperneando, fechando os olhos e abrindo a boca. Uma risada escandalosa, tão contagiosa quanto o pior vírus que existe. Uma risada que não leva em conta o que vem depois ou o resto mundo. Pouco antes das luzes apagarem, a terra começa a tremer. Vejo vasos caindo ao chão e as janelas rachando. Mais alguns segundos e tudo isso acabará. Não poderei mais apreciar os sons das tuas palavras e nem a poesia do teu canto. Estarei cercado de diversas coisas e tudo ficará em breu. Mas, ainda assim, a última coisa que lembrarei será esta: sua voz logo pela manhã.

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