domingo, 8 de junho de 2014

Dia 7 de Junho, 2014.

Querido diário,


desculpe por escrever tão tarde, Tom. Queria poder dizer que estive ocupado o dia todo, mas isso seria uma mentira.

                O novo me assusta. Acho que eu nunca soube disso. É como uma daquelas coisas quando você só descobre mais tarde na vida, tipo que você tem alergia a palmito. Sempre tenho um pé atrás quando sinto que há uma mudança por perto. Eu gosto de ter uma rotina, ou pelo menos saber o que irei fazer no dia seguinte. Sim, posso ser impulsivo quando eu quero, mas prefiro muito mais ter os pés no chão e seguir com meus planos. Quando alguma coisa sai dos trilhos, eu me perco. Totalmente. Se eu mudo de curso, se alguém sai da minha vida... todas essas coisas que estão presentes no meu dia-a-dia. Eu percebo que o que era para estar, não está mais lá. O que eu devo fazer, então? Fico assustado com essa ausência, com esse vazio que fica, ainda mais se eu estou acostumado com algo por muito tempo. Gosto de dar boa noite para quem amo, gosto de colocar meu despertador para tocar três minutos antes, gosto de sempre cumprimentar as pessoas. Rotina, Tom. Sou um cara que preza isso.

                Outra coisa que também me assusta é ter percebido que sim, todos mentem. Sempre fui um cara que tem confiança nos que estão perto. Nunca penso o pior da pessoa, que ela vai simplesmente mentir na minha cara e agir como se nada tivesse acontecido. Descobrir uma mentira sobre alguém, ainda mais em quem você confia cegamente, pode te destruir, pedaço por pedaço. Eu posso ficar com uma mentira na minha cabeça por muito, sem falar nada dela para a pessoa. Mas, acredite, eu estou pensando nela. Acho que é a mesma coisa que eu faço quando a pessoa faz algo que eu não goste, ou que fira meus princípios. Odeio ter esse defeito. Principalmente por me deixar literalmente louco de tanto pensar. Para a maioria, a maioria das coisas que desprezo não importa, então não consigo compartilhar isso com alguém. Por exemplo: apesar de estarmos no século vinte e um, e as pessoas fazerem sexo a torto e a direita, não consigo deixar de ficar enjoado ao pensar nos parceiros sexuais anteriores de alguém. É um tipo de insegurança? Talvez até seja. Mas sinto que é como se a pessoa não realmente me amasse, ou que preferisse outro, principalmente se já me conhecesse. É um sentimento horrível, Tom. Não sai da minha cabeça. Não consigo olhar com os mesmos olhos quem estiver comigo se eu descobrir algo do tipo. Se tenho dificuldades em aceitar relacionamentos passados da pessoa, imagine esse nível de intimidade? Sei lá, é muito para minha cabeça. Odeio essa merda de casualidade contemporânea. Tanto só por “ficar” quanto por sexo. Sempre odiei o carnaval por ser esse antro desse tipo de vulgaridade, ou seja lá o que isso seja. Não me leve a mal, gosto de como o carnaval pode juntar muitos amigos, mas esse aspecto me deixa realmente furioso. Pareço um velho dizendo isso, mas o que aconteceu com todo aquele eu e você para sempre? Apoio completamente o sexo somente depois do casamento, mesmo não tendo feito por onde. Fazer sexo só por fazer me soa repugnante. Quem sabe eu não pense mais assim mais tarde, não é? Quem sabe. Até lá, penso desse jeito.

                Acho que me desviei um pouco do assunto da mentira, mas é isso. Se for mentir para mim, que seja uma mentira bem fundamentada e sem furos. Porém, nunca, jamais, minta para mim se for alguém que eu amo. Nunca. Um “desvio da verdade” simples aqui e lá é aceitável, mas uma verdadeira mentira não. Principalmente se envolver amor, de qualquer das partes.

Atenciosamente,
Victor Luiz.

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