quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Nomad Motto.

                Por um tempo, desejou que um raio tivesse a fineza de lhe atingir no meio da rua. Pensava que, com a súbita passagem de milhões de correntes elétricas em seu corpo, algo iria mudar. Não tinha a esperança de causar um buraco em sua memória, mas talvez que pudesse ficar em coma, numa cama de hospital qualquer. Deitado, sem qualquer noção de tempo, ignorando as noites virando dias. Inconsciente, somente.
                Quando chegou no seu destino, percebeu que a natureza nada tinha com seus devaneios. Se algo o incomodava, teria que resolver-se sozinho. Sentou-se e pediu um café. Puro, sem o leite de sempre. Imaginou que apenas um café amargo conseguiria ajudá-lo. Pegou seu caderninho e deixou sua bolsa no assento. Leu os garranchos lá escritos, há tantos anos que mal podia lembrar de onde os havia desenhado. Podia observar as folhas já gastas, mesmo com todo o cuidado que mantinha. Ficou alí, olhando para suas letras formando palavras por alguns minutos. Finalmente, deixou sua transe de lado e pegou o lápis. Continuou as histórias, como se nunca tivessem acabado. Escreveu para escapar da realidade que o cercava, inventando finais alternativos, enganando sua velha memória.
                Talvez fosse melhor colocar algumas colheres de açúcar, ao menos. Já estava amargo o suficiente por dentro.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário