Chovia bastante.
Ficava difícil enxergar pouco mais de alguns metros, com as gotas tão grossas.
Era bonito de se ver, na verdade. Era madrugada, então a única luz era a dos
postes, focando em pequenos círculos d’água. Também havia um frio, que
combinava com o café em cima da mesa. O meu cobertor antigo era essencial,
envolto em mim. Todos esses fatores me faziam pensar em diversas coisas, no
conforto daquela cadeira. Imaginei o que estaria fazendo em dez anos. Onde
estaria. Com quem. Aos vinte, a perspectiva da vida começa a tomar forma. Se antes
eu era somente um vagabundo, dentre tantos, hoje o futuro já bate minha porta. É
incrível o que um ano pode mudar em você. Não digo que estou mais maduro, pois
ainda estou perdido nesse mundo, mas consigo sentir que estou diferente. Ou
algo assim.
Também pensei na
saudade. Saudade essa que me deixou feliz por um tempo, lembrando dos detalhes.
É tanta coisa que acabo esquecendo, salve o que deixo guardado em algumas
folhas. Dou risadas e, por um momento, esqueço que saudade também é tristeza. Saudade
é ausência. Saudade é passado. E não volta mais.
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