Querido diário,
havíamos combinado,
há um tempo atrás, que somente voltaria a me referir à você quando eu realmente
precisasse. Pois bem,
preciso de seus auxílios novamente.
No
passado, precisava falar com alguém imparcial que somente me escutasse e que me
entendesse, mesmo com todas os meus pensamentos confusos e desorganizados.
Desta vez, é isso ou encarar um psicólogo. Porém, ainda não estou preparado
para admitir que sou louco. Sou jovem, não posso ser louco. Enfim, pode fazer
isso de novo? Sei que faz um tempo, mas me encontro perdido nesse mundo e acho
que falar com alguém (mesmo que imaginário) me fará esquecer um pouco de meus
problemas. Posso te chamar de Tom? Não lembro qual foi o nome que te dei
naquela época. Tudo bem por você? Então, comecemos.
Lembra-se
da situação que eu estava? Espero que sim. A festa, Tom. Sim, essa mesmo.
Lembrou? Partiremos daí, então. Lembra que fim levou? Pois bem. Continuamos por
algum tempo e paramos. Voltamos no ano seguinte, por um caminho levemente
conturbado. Vivemos diversas coisas juntos, a maioria muito íntima para eu
quebrar o voto de confiança aqui. Enfim, saiba que vivemos belos momentos, que
me fizeram muito feliz. Porém, você sabe dos meus problemas. Embora faça muito
tempo, alguns ainda permaneceram em mim, meio que grudados à minha alma. O
nosso amor era lindo, posso dizer. Lindo mesmo. O início foi como andar sobre
pétalas de rosas todos os dias, já que estudávamos juntos. Ficávamos grudados
quase que vinte e quatro horas por dia: saíamos juntos, namorávamos juntos,
“estudávamos” juntos... Sim, isso me acostumou mal, por um simples motivo: era
o nosso último ano de Ensino Médio, então logo mais iríamos tentar entrar em
faculdades, provavelmente distintas e isso seria uma barra que teríamos que
aguentar. E foi o que aconteceu. Continuamos juntos, mas com uma certa
distância criada, sem que nós mesmo quiséssemos.
A
faculdade se tornou um grande empecilho em nosso relacionamento. O tempo que
antes tínhamos para nos vermos, agora estava restrito aos finais de semana.
Tentávamos quebrar isso, mas eu sempre tinha aula às sete e meia da manhã, complicando
nossas possíveis saídas noturnas. Você pode ter notado que houve uma abrupta
mudança em nossa rotina. Isso gerou brigas, muitas vezes sem fundamentos por
ambas as partes, a maioria questionando sobre um realmente querer ver o outro.
Se você se lembra bem, em todos os meus relacionamentos eu me entreguei
totalmente para o meu parceiro, inclusive para ela quando tivemos o nosso
breve, antes. Sim, fiquei relaxado. O fato de ela me amar o tanto quanto me
amava me dava uma margem de comodismo relativamente grande. Assim, na minha
cabeça sempre conseguíamos resolver nossas brigas, o que não era verdade. Todas
as mudanças que pedíamos do outro raramente aconteciam, principalmente com as
personalidades fortes de ambos. Sendo assim, deixávamos muita coisa rolar, o
que ocasionou em brigas muito mais sérias e igualmente sem resultados. Se você
me perguntar, posso até dizer que guardávamos um certo receio no fundo de nós.
“Se nada está mudando, um de nós não está fazendo o que deve”. Se era verdade?
Realmente não sei. O que sei é que chegou ao ponto de que, principalmente ela,
ficamos exaustados com o nosso relacionamento. Até tentamos dar um tempo, à fim
de mostrar um para o outro o quanto era importante na vida de ambos, mas em
vão.
Obviamente,
isso foi um choque emocional tremendo para mim. E sei que para ela também foi,
mesmo que ela tenha dito que já sabia que isso iria acontecer. Sim, eu tinha
ideia da possibilidade (grande) de acabarmos (principalmente pelos meus erros
contínuos), mas acho que no fundo eu não acreditava que isso iria acontecer.
Afinal, imaginava-me junto dela até nossa morte. Mas, isso não tira minha culpa
nesse término. Com somente algumas palavras diárias, eu podia ter salvado esse
relacionamento, e podia até fazer com que ele não precisasse ser salvo. Eram
coisas simples que eu simplesmente passei por cima. Assim, toda vez que eu o
fazia, eu a magoava, até que ela cansou de ser magoada.
Na mesma semana de
nosso término, um rapaz apareceu na vida dela. Não vou dizer que realmente
apareceu, até por quê já estava na vida dela, mesmo que há pouco tempo. Ela
estava sozinha e magoada, e achou no colo dele um refúgio para tudo aquilo que
eu a causei. Justo. Não posso reclamar. Começaram a namorar e até agora estão
juntos. Onde estou nisso tudo? Metade de mim quer que ela dê certo com esse
cara. Quer que ela tenha uma felicidade que não encontrava comigo há tempo,
mesmo que não seja com ele, ou comigo. Essa parte, a apóia totalmente em sua
decisão e espera que eles possam ficar juntos até ela se sentir confortável.
Também acredita numa reconciliação (mesmo sabendo que novas situações podem
surgir, muitos delas ferindo meus próprios princípios), mas a respeita ao ponto
de deixa-la fazer suas próprias decisões. Acha que deve isso à ela, depois de
tudo.
Eu queria
poder dizer que não há um outro lado meu nessa situação. Mas existe. O lado
magoado. O lado que não aceita tudo isso que aconteceu e que implora
diariamente pela volta da amada. O lado que pensa em ligar de cinco em cinco
minutos para ela, perguntando aonde está, se está bem, com quem está,
simplesmente por não conseguir ficar bem se não fizer isso. O lado que também
faz com que eu imagine coisas que eu não deveria (sei que você sabe do que eu
estou falando), pelo menos para manter minha sanidade. Esse lado ignora
completamente que agora ela tem um namorado, e que não sou eu. Ignora que ela
precisa de espaço e que eu não tenho mais o direito daquela liberdade que antes
tanto tínhamos um com o outro. Ignora que ela seguiu com a vida dela.
Hoje é dia
vinte e três de Maio, de 2014. Se ainda estivéssemos juntos, estaríamos juntos
há dois anos e um mês. Eu tentei me preparar para esse dia, para todas as
lembranças e memórias que esse dia iria me trazer. Parece que não foi o
suficiente. Mas, estou tentando. Essas horas que passei aqui conversando com
você me ajudaram a ficar com a mente um pouco ocupada, ou pelo menos desviá-la
das coisas que eu não quero pensar. Não posso te prometer que amanhã voltarei
aqui com você, mas garanto que ajudou bastante. Obrigado. Por tudo. Até logo, Tom.
Atenciosamente,
Victor Luiz.