sexta-feira, 23 de maio de 2014

Dia 23 de Maio, 2014.

Querido diário,         

havíamos combinado, há um tempo atrás, que somente voltaria a me referir à você quando eu realmente precisasse. Pois bem, preciso de seus auxílios novamente.
No passado, precisava falar com alguém imparcial que somente me escutasse e que me entendesse, mesmo com todas os meus pensamentos confusos e desorganizados. Desta vez, é isso ou encarar um psicólogo. Porém, ainda não estou preparado para admitir que sou louco. Sou jovem, não posso ser louco. Enfim, pode fazer isso de novo? Sei que faz um tempo, mas me encontro perdido nesse mundo e acho que falar com alguém (mesmo que imaginário) me fará esquecer um pouco de meus problemas. Posso te chamar de Tom? Não lembro qual foi o nome que te dei naquela época. Tudo bem por você? Então, comecemos.
Lembra-se da situação que eu estava? Espero que sim. A festa, Tom. Sim, essa mesmo. Lembrou? Partiremos daí, então. Lembra que fim levou? Pois bem. Continuamos por algum tempo e paramos. Voltamos no ano seguinte, por um caminho levemente conturbado. Vivemos diversas coisas juntos, a maioria muito íntima para eu quebrar o voto de confiança aqui. Enfim, saiba que vivemos belos momentos, que me fizeram muito feliz. Porém, você sabe dos meus problemas. Embora faça muito tempo, alguns ainda permaneceram em mim, meio que grudados à minha alma. O nosso amor era lindo, posso dizer. Lindo mesmo. O início foi como andar sobre pétalas de rosas todos os dias, já que estudávamos juntos. Ficávamos grudados quase que vinte e quatro horas por dia: saíamos juntos, namorávamos juntos, “estudávamos” juntos... Sim, isso me acostumou mal, por um simples motivo: era o nosso último ano de Ensino Médio, então logo mais iríamos tentar entrar em faculdades, provavelmente distintas e isso seria uma barra que teríamos que aguentar. E foi o que aconteceu. Continuamos juntos, mas com uma certa distância criada, sem que nós mesmo quiséssemos.
A faculdade se tornou um grande empecilho em nosso relacionamento. O tempo que antes tínhamos para nos vermos, agora estava restrito aos finais de semana. Tentávamos quebrar isso, mas eu sempre tinha aula às sete e meia da manhã, complicando nossas possíveis saídas noturnas. Você pode ter notado que houve uma abrupta mudança em nossa rotina. Isso gerou brigas, muitas vezes sem fundamentos por ambas as partes, a maioria questionando sobre um realmente querer ver o outro. Se você se lembra bem, em todos os meus relacionamentos eu me entreguei totalmente para o meu parceiro, inclusive para ela quando tivemos o nosso breve, antes. Sim, fiquei relaxado. O fato de ela me amar o tanto quanto me amava me dava uma margem de comodismo relativamente grande. Assim, na minha cabeça sempre conseguíamos resolver nossas brigas, o que não era verdade. Todas as mudanças que pedíamos do outro raramente aconteciam, principalmente com as personalidades fortes de ambos. Sendo assim, deixávamos muita coisa rolar, o que ocasionou em brigas muito mais sérias e igualmente sem resultados. Se você me perguntar, posso até dizer que guardávamos um certo receio no fundo de nós. “Se nada está mudando, um de nós não está fazendo o que deve”. Se era verdade? Realmente não sei. O que sei é que chegou ao ponto de que, principalmente ela, ficamos exaustados com o nosso relacionamento. Até tentamos dar um tempo, à fim de mostrar um para o outro o quanto era importante na vida de ambos, mas em vão.
Obviamente, isso foi um choque emocional tremendo para mim. E sei que para ela também foi, mesmo que ela tenha dito que já sabia que isso iria acontecer. Sim, eu tinha ideia da possibilidade (grande) de acabarmos (principalmente pelos meus erros contínuos), mas acho que no fundo eu não acreditava que isso iria acontecer. Afinal, imaginava-me junto dela até nossa morte. Mas, isso não tira minha culpa nesse término. Com somente algumas palavras diárias, eu podia ter salvado esse relacionamento, e podia até fazer com que ele não precisasse ser salvo. Eram coisas simples que eu simplesmente passei por cima. Assim, toda vez que eu o fazia, eu a magoava, até que ela cansou de ser magoada.
Na mesma semana de nosso término, um rapaz apareceu na vida dela. Não vou dizer que realmente apareceu, até por quê já estava na vida dela, mesmo que há pouco tempo. Ela estava sozinha e magoada, e achou no colo dele um refúgio para tudo aquilo que eu a causei. Justo. Não posso reclamar. Começaram a namorar e até agora estão juntos. Onde estou nisso tudo? Metade de mim quer que ela dê certo com esse cara. Quer que ela tenha uma felicidade que não encontrava comigo há tempo, mesmo que não seja com ele, ou comigo. Essa parte, a apóia totalmente em sua decisão e espera que eles possam ficar juntos até ela se sentir confortável. Também acredita numa reconciliação (mesmo sabendo que novas situações podem surgir, muitos delas ferindo meus próprios princípios), mas a respeita ao ponto de deixa-la fazer suas próprias decisões. Acha que deve isso à ela, depois de tudo.
Eu queria poder dizer que não há um outro lado meu nessa situação. Mas existe. O lado magoado. O lado que não aceita tudo isso que aconteceu e que implora diariamente pela volta da amada. O lado que pensa em ligar de cinco em cinco minutos para ela, perguntando aonde está, se está bem, com quem está, simplesmente por não conseguir ficar bem se não fizer isso. O lado que também faz com que eu imagine coisas que eu não deveria (sei que você sabe do que eu estou falando), pelo menos para manter minha sanidade. Esse lado ignora completamente que agora ela tem um namorado, e que não sou eu. Ignora que ela precisa de espaço e que eu não tenho mais o direito daquela liberdade que antes tanto tínhamos um com o outro. Ignora que ela seguiu com a vida dela.
Hoje é dia vinte e três de Maio, de 2014. Se ainda estivéssemos juntos, estaríamos juntos há dois anos e um mês. Eu tentei me preparar para esse dia, para todas as lembranças e memórias que esse dia iria me trazer. Parece que não foi o suficiente. Mas, estou tentando. Essas horas que passei aqui conversando com você me ajudaram a ficar com a mente um pouco ocupada, ou pelo menos desviá-la das coisas que eu não quero pensar. Não posso te prometer que amanhã voltarei aqui com você, mas garanto que ajudou bastante. Obrigado. Por tudo. Até logo, Tom.


Atenciosamente,
Victor Luiz.

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