Querido diário,
ainda não é dia vinte
e cinco, mas sinto que vou esquecer logo tudo o que quero escrever agora
(obrigado, memória). Na verdade, acho que estou viciado em te escrever. Como
minhas amizades agora passam por um teste árduo de sobrevivência, e a única
pessoa com quem eu me sinto confortável já não tem mais a necessidade nem a
vontade de conversar comigo, venho aqui humildemente pedir morada. Sem contar
que a situação não permite tanta liberdade entre nós, então a maioria das
conversar que temos, fica restritas a alguns assuntos. De vez em quando
conversamos sobre nós, mas acho que ambos cansamos de chorar ou de ficar
remoendo o passado. Então, acho que só me sobrou você, Tom (desculpe a
insensibilidade).
Sábado
virou o dia onde eu posso a ver sem que isso torne-se muito estranho. Na
verdade, acho que ainda continuar no curso é só uma desculpa para vê-la, ao
menos, uma vez na semana. E esse pensamento me levou a outro, que me deixou
bastante preocupado. Pelo que entendi, as aulas desse curso que estou fazendo
nas manhãs de Sábado terminarão em duas semanas. Assim, o tempo que eu teria
com ela por semana equivaleria a exatamente zero, visto que não podemos sair
juntos ou algo do tipo. Uma citação que li há um tempo me veio à cabeça logo
quando pensei nisso: “Longe dos olhos, longe do coração.”. Não sei de onde é
isso, mas não pude deixar de me preocupar com tal possibilidade. Convenhamos:
nós temos um mísero tempo por semana para conversarmos cara-a-cara, e mesmo
assim ainda estamos a anos luz da intimidade que tínhamos (até mesmo se
compararmos antes do namoro). Se esse tempo se extinguir, o que aconteceria? A
primeira possibilidade que passa pela minha cabeça é a de ela lentamente me
esquecer. Afinal, as férias irão começar, e mesmo que curtas, ainda assim serão
um tempo (de provavelmente um mês) no qual teremos um mínimo de contato, nos
falando apenas por mensagens (acho que telefone não conta, visto que precisa
ter acontecido algo para conversarmos por lá). Nisso, ela terá um bom tempo
para descansar e, por que não, curtir a vida. Sem ver a minha cara feia todo
Sábado, deverá ter mais intimidade com seu namorado (pararei por aqui mesmo) e
essa minha ausência poderá acarretar em uma melhoria em muitos aspectos de sua
vida. Resumindo: serei esquecido e ela seguirá com sua vida.
Obviamente,
existe também a outra opção, que contraria a anterior. Eu queria realmente que
essa opinião tivesse uma mínima possibilidade, mas não sei mais em que
acreditar. Digo, um dia estou com cem por cento de certeza que as coisas darão
certo e logo tudo voltará ao normal e melhor. No outro, estou totalmente
acabado, com uma mísera esperança que às vezes assombra meus próprios sonhos.
Não sei como colocar de outra maneira, mesmo que clichê: estou uma
montanha-russa de sentimentos. Essa opção consiste na percepção dela que
podemos sim reconstruir nosso relacionamento, ou pelo menos começar um do zero
(o que se torna difícil com um namorado por perto). Consiste em que nos
momentos de ócio, os pensamentos de nós dois a farão acreditar no nosso amor
novamente. Porém, sei que para isso acontecer a sorte precisa realmente estar
ao meu lado, e que as chances das coisas irem pelo outro caminho são muito
maiores (como aconteceu há alguns dias atrás). Me agarro nessa opção com dentes
e unhas, todos os dias. Não desistirei assim tão fácil. Não depois de tudo o
que passamos.
Espero que dê tudo
certo.
Atenciosamente,
Victor Luiz.
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