Querido diário,
nunca pensei que
chegaria o dia em que pessoas que eu conheço há menos de um ano estariam mais
preocupadas comigo do que as que me conhecem há oito. Obviamente, também não
esperava que meu relacionamento mais duradouro seria fadado ao fracasso, queira
eu quisesse ou não. Recebi diversos conselhos, todos me dizendo para eu
continuar na minha vida, sem olhar para trás. É o que eu deveria fazer, certo?
Afinal, ela está namorando. Ela está em outro, enquanto eu estou aqui,
remoendo-me pelo leite derramado. Tenho ciência de que a maioria dos que me
deram tais conselhos, agora têm raiva de mim. Pelo simples motivo de eu não
segui-los e claramente permanecer na mesma situação. Acham que eu não estou
fazendo nada para sair disso tudo com a cabeça erguida. Vos provo errado. Estou
tentando, meus amigos, só que no meu tempo. Acreditem ou não, preciso desse
momento só para mim. Preciso sentir toda essa tristeza, antes de finalmente
seguir em frente. Preciso gravar em meu cérebro todos os erros que cometi,
deixando-me preparado para meu próximo relacionamento. Não, não mudarei meu
jeito de ser, pelo simples motivo de estar renegando minha própria existência.
Mudarei minhas atitudes e os meus objetivos de vida. Terei consciência de que
todos os meus atos resultarão em alguma coisa, algum dia. Podem ser coisas
boas, como também podem ser ruins (vide agora).
Comecei
meu dia a acordando, como fiz na passada, mesmo com as coisas ainda estando
muito estranhas. Não farei isso na próxima. Oferecerei sim uma carona, mas não
ligarei. Temos agora objetivos completamente distintos, em relação ao curso que
fazemos juntos, então não forçarei nada. Essa coisa de expectativa está
acabando comigo, então simplesmente largarei de mão. Eu imaginava que pelo
menos teríamos uma conversa cara-a-cara semanal, mas acabamos ficando naquela
de “Ei, eu acho que te conheço, mas não tenho certeza.”. Também não perguntarei
mais sobre seus paradeiros, ou mesmo planos. Aprendi que quem não quer falar,
não fala ou dá um jeito de acabar com a conversa. Não forçarei conversa com
quem tem alguém para ficar no fim do dia. Afinal, deve ter mais assunto com
ele, não? Sou chato e ela não precisa mais conversar só por me namorar. Sou o
passado e ele é o presente. Não reclamo. É só a vida. E ela está ai para me
testar. Estou disposto a aceitar esse desafio.
Ela não
foi direto para a casa, fazendo um desvio no metrô. Sim, existem inúmeras possibilidades
para o que ela possa ter feito, mas é claro que irei imaginar o pior cenário.
Não sei onde seu namorado mora, então fico desnorteado com a possibilidade dela
ter ido na casa dele. Se estar até agora lá. De... É. Não irei perguntar. Ela
odeia quando eu faço (ou odeia ter que me responder tais coisas). E também não
quero saber. Pelo menos não agora. Sim, sou o maior curioso deste planeta, e
isso muitas vezes me faz passar por situações as quais nunca quis. E não quero
de jeito nenhum ter essa informação na minha cabeça. Como ela mesmo disse,
existem coisas que são melhores não serem contadas. (uma desculpa dela para não
contar e não querer me envolver no seu relacionamento).
Sim, Tom,
estou perdido. Nunca estive tão perdido. Não era uma coisa que eu contava para
acontecer, mas aconteceu. Mas, isso não me derrotará. Não de novo. Se tem uma
coisa que aprendi sobre meus relacionamentos é que sempre dou a volta por cima.
Dessa vez não vai ser diferente. Foram os dois melhores anos da minha vida que
passei ao lado dela, mas acabou. Sou somente um jovem de dezenove anos e tenho
uma vida toda pela frente. Tenho todos os meus sonhos na palma da minha mão.
Ninguém vai tirá-los de mim. Ninguém. Sim, eu mudaria meus planos para ficar
com ela, mas isso não vai acontecer. Então, seguirei com o roteiro. Espero que
tenha um final feliz.
Atenciosamente,
Victor Luiz.
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