Querido diário,
queria pedir um
conselho a você. Acho que cheguei no momento da aceitação após um término de
relacionamento. Antes disso, eu cheguei até a achar que isso tudo era uma
grande brincadeira por parte dela (embora de mau gosto) e que alguma hora ela
iria me contar. Não percebi o quão idiota isso soava. A minha rotina está
literalmente quebrada. Faltei a mais uma aula e acho que posso estar
encrencado, ainda tenho que conversar com minha professora. Ela é a única
professora com quem eu tenho uma afeição, mas ainda assim temo por uma
reprovação. Não sei exatamente o motivo da minha falta. Acordei antes do
despertador, como tenho feito essas semanas, esperei-o tocar e desliguei-o.
Fiquei deitado por cerca de quinze minutos e declarei como morto esse dia. Novamente,
passei o dia inteiro sem fazer absolutamente nada. Assisti duas temporadas de
um sitcom, ontem e hoje, e só. E, é claro, esperei por aquela ligação que iria
mudar minha situação. Esperei por muitas coisas, na verdade. Esperei pelo
balãozinho do chat ficar vermelho. Esperei ouvir sua voz. Esperei um “sinto sua
falta”. Esperei que o dia passasse, na esperança de uma noite melhor. Em vão.
Perdi
mais um dia. Podia ter feito alguma coisa, qualquer coisa. Até o cinema, com
vários filmes em cartaz. Mas escolhi mofar dentro de casa. Escolhi não perder a
possível chance dela me contatar de alguma maneira. Fato é: estou ficando louco.
Essa espera me mata a cada minuto que passa, ainda mais com nenhuma melhora na
situação. Olho freneticamente para o celular, meu feed e minhas mensagens. Cada
vez que olho, fico desapontado. Estamos no mesmo lugar há três semanas. Parece
que somos dois conhecidos, com pouca ou nenhuma intimidade. Sempre tenho a
impressão de estar atrapalhando-a em alguma coisa, ou irritando-a, então
dificilmente consigo prolongar algum assunto. Eu quero. Sempre quero conversar
com ela, mas não consigo. Parece que agora temos essa barreira entre nós. É
simplesmente horrível viver assim. Cultivamos uma amizade de oito anos, para
terminarmos assim. É triste.
Também vi
coisas que não queira. Na verdade, acho que era só uma questão de tempo até
ver. A intimidade entre ela e o namorado cresce, enquanto a nossa continua
enterrada. Ela me disse que ver seria muito pior do que imaginar. Acho que
estava certa. Tentei me preparar para as mais diversas situações, até mesmo
encontrar com eles na rua. Ela não quer que isso aconteça, mas sei que vai. Ou
ao menos irei ver, um dia, a aliança deles colocada na sua mão. Vai ser brutal,
obviamente, mas nem eu nem ela podemos evitar. Sei que eles são namorados e por
isso tem intimidade. Sei que se beijam. Sei que se abraçam. Sei que se confortam.
Sei que conversam sobre trivialidades. Sei que dizem afetos um ao outro. Eu
sei. Estou ciente. Não sou idiota e não quero ser tratado como um. Odeio essa
pena que às vezes ela me demonstra, como se dissesse: “Coitado, não queria que
você soubesse disso” ou “Sei que você vai achar alguém”. Se estão namorando, é
porque gostam um do outro, tanto ela, como ele. É hipocrisia querer me
convencer do contrário. Já disse isso para ela: se quiser namorar, namore. Mas,
se for fazer isso, não finja que não está.
Acabaram
de me ligar. Obviamente, meu cérebro iluminou-se todo e procurou por meu
celular em todos os lugares. Fiquei frenético, ansioso por finalmente poder
ouvir sua voz. Você sabe de quem eu esperava uma ligação. Porém, mais uma vez,
decepção. Mais um balde de água fria.
Não sei
se estou paranoico, mas tenho a impressão de ter alguém lendo nossas
correspondências, Tom. Não acho que seja ela, mas acho que já não sei mais de
nada. Queria poder saber quem é (e se existe mesmo).
Voltando
ao início, qual conselho você pode me dar? O que devo fazer com relação a tudo?
Esperar mais? Esquecê-la de vez? Entender que seremos somente “amigos”? Estarei
esperando sua resposta. Quando a tiver, sabe onde me procurar.
Atenciosamente,
Victor Luiz.
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