terça-feira, 27 de maio de 2014

Dia 27 de Maio, 2014

Querido diário,

queria pedir um conselho a você. Acho que cheguei no momento da aceitação após um término de relacionamento. Antes disso, eu cheguei até a achar que isso tudo era uma grande brincadeira por parte dela (embora de mau gosto) e que alguma hora ela iria me contar. Não percebi o quão idiota isso soava. A minha rotina está literalmente quebrada. Faltei a mais uma aula e acho que posso estar encrencado, ainda tenho que conversar com minha professora. Ela é a única professora com quem eu tenho uma afeição, mas ainda assim temo por uma reprovação. Não sei exatamente o motivo da minha falta. Acordei antes do despertador, como tenho feito essas semanas, esperei-o tocar e desliguei-o. Fiquei deitado por cerca de quinze minutos e declarei como morto esse dia. Novamente, passei o dia inteiro sem fazer absolutamente nada. Assisti duas temporadas de um sitcom, ontem e hoje, e só. E, é claro, esperei por aquela ligação que iria mudar minha situação. Esperei por muitas coisas, na verdade. Esperei pelo balãozinho do chat ficar vermelho. Esperei ouvir sua voz. Esperei um “sinto sua falta”. Esperei que o dia passasse, na esperança de uma noite melhor. Em vão.
Perdi mais um dia. Podia ter feito alguma coisa, qualquer coisa. Até o cinema, com vários filmes em cartaz. Mas escolhi mofar dentro de casa. Escolhi não perder a possível chance dela me contatar de alguma maneira. Fato é: estou ficando louco. Essa espera me mata a cada minuto que passa, ainda mais com nenhuma melhora na situação. Olho freneticamente para o celular, meu feed e minhas mensagens. Cada vez que olho, fico desapontado. Estamos no mesmo lugar há três semanas. Parece que somos dois conhecidos, com pouca ou nenhuma intimidade. Sempre tenho a impressão de estar atrapalhando-a em alguma coisa, ou irritando-a, então dificilmente consigo prolongar algum assunto. Eu quero. Sempre quero conversar com ela, mas não consigo. Parece que agora temos essa barreira entre nós. É simplesmente horrível viver assim. Cultivamos uma amizade de oito anos, para terminarmos assim. É triste.
Também vi coisas que não queira. Na verdade, acho que era só uma questão de tempo até ver. A intimidade entre ela e o namorado cresce, enquanto a nossa continua enterrada. Ela me disse que ver seria muito pior do que imaginar. Acho que estava certa. Tentei me preparar para as mais diversas situações, até mesmo encontrar com eles na rua. Ela não quer que isso aconteça, mas sei que vai. Ou ao menos irei ver, um dia, a aliança deles colocada na sua mão. Vai ser brutal, obviamente, mas nem eu nem ela podemos evitar. Sei que eles são namorados e por isso tem intimidade. Sei que se beijam. Sei que se abraçam. Sei que se confortam. Sei que conversam sobre trivialidades. Sei que dizem afetos um ao outro. Eu sei. Estou ciente. Não sou idiota e não quero ser tratado como um. Odeio essa pena que às vezes ela me demonstra, como se dissesse: “Coitado, não queria que você soubesse disso” ou “Sei que você vai achar alguém”. Se estão namorando, é porque gostam um do outro, tanto ela, como ele. É hipocrisia querer me convencer do contrário. Já disse isso para ela: se quiser namorar, namore. Mas, se for fazer isso, não finja que não está.
Acabaram de me ligar. Obviamente, meu cérebro iluminou-se todo e procurou por meu celular em todos os lugares. Fiquei frenético, ansioso por finalmente poder ouvir sua voz. Você sabe de quem eu esperava uma ligação. Porém, mais uma vez, decepção. Mais um balde de água fria.
Não sei se estou paranoico, mas tenho a impressão de ter alguém lendo nossas correspondências, Tom. Não acho que seja ela, mas acho que já não sei mais de nada. Queria poder saber quem é (e se existe mesmo).
Voltando ao início, qual conselho você pode me dar? O que devo fazer com relação a tudo? Esperar mais? Esquecê-la de vez? Entender que seremos somente “amigos”? Estarei esperando sua resposta. Quando a tiver, sabe onde me procurar.


Atenciosamente,
Victor Luiz.

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