quinta-feira, 20 de agosto de 2015

Nomad Motto.

                Por um tempo, desejou que um raio tivesse a fineza de lhe atingir no meio da rua. Pensava que, com a súbita passagem de milhões de correntes elétricas em seu corpo, algo iria mudar. Não tinha a esperança de causar um buraco em sua memória, mas talvez que pudesse ficar em coma, numa cama de hospital qualquer. Deitado, sem qualquer noção de tempo, ignorando as noites virando dias. Inconsciente, somente.
                Quando chegou no seu destino, percebeu que a natureza nada tinha com seus devaneios. Se algo o incomodava, teria que resolver-se sozinho. Sentou-se e pediu um café. Puro, sem o leite de sempre. Imaginou que apenas um café amargo conseguiria ajudá-lo. Pegou seu caderninho e deixou sua bolsa no assento. Leu os garranchos lá escritos, há tantos anos que mal podia lembrar de onde os havia desenhado. Podia observar as folhas já gastas, mesmo com todo o cuidado que mantinha. Ficou alí, olhando para suas letras formando palavras por alguns minutos. Finalmente, deixou sua transe de lado e pegou o lápis. Continuou as histórias, como se nunca tivessem acabado. Escreveu para escapar da realidade que o cercava, inventando finais alternativos, enganando sua velha memória.
                Talvez fosse melhor colocar algumas colheres de açúcar, ao menos. Já estava amargo o suficiente por dentro.  

domingo, 16 de agosto de 2015

C'mere.

O tempo havia parado.
                Eu não tinha feito nada, na verdade. Demorei algum tempo até notar que seu olhar não havia focado em algo, mas sim parado. Observei-o por algum tempo, e percebi o quão inexpressivo era. Não havia mais cor em seus olhos. Seu rosto demonstrava um certo cansaço, provavelmente devido ao longo dia que tivera. Sua mão direita segurava a esquerda com bastante força, tanto que deixava sua palma branca. Seus pés estavam esticados, de um modo que a sola não encostava no chão. Os ombros pareciam rígidos, diferentes dos que eu estava acostumado.
                Durante aqueles minutos, pude notar diversas coisas que não condiziam com a pessoa que eu conhecia há oito anos. Se o tempo não tivesse parado, não iria tomar conhecimento de seu claro nervosismo, mesmo que tivesse passado despercebido por mim. Se eu não conseguia dormir nas últimas noites, descobri que ela também passava pelos seus maus bocados. A dor não era exclusiva minha, embora tivesse diferentes razões. 

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Word by Word.

                Tento entender em como sua voz ecoa em minha cabeça, lembrando toda a falta que você me faz. Se olho para a lua que aparece na madrugada, silenciosa e brilhante, lembro de como você surgia através do portão, mirando-me com olhos cintilantes. Se ando pela rua, procuro pelas suas costas meio longas (ou pela sua bunda). Se estou sozinho em meu quarto, escuto músicas que me lembram os cantos da tua boca, com pequeninas covas. Se leio livros, invento diálogos em que discutimos sobre qual é a melhor comida. Se vejo um filme, imagino seus pés enrolados nos meus, em uma noite fria de inverno.
                Se escrevo, tento de todas as maneiras evitar meu pensamento em você. O que, uma hora ou outra, acaba se tornando impossível.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Brianstorm.

                Você disse que iria em bora, mas insiste que eu implore para ficar. Indefeso, acato sua ferocidade contra mim. Pouco tenho, mas trocaria pela sua permanência. Deixo a porta aberta, caso precise de um lugar. Prenso o celular na minha orelha, para que sua voz fique mais de pertinho. Observo a rua daqui de cima, na esperança de te ver por aí. Penso em pegar o ônibus até você, mas logo percebo minha tolice. Escuto suas músicas preferidas, só para te imaginar dançando no quarto. Relembro momentos que acabaram rápidos demais, desafiando minha sanidade.
                Quando digo que vou aí, você hesita. Vejo que sou perdido em ti, que se perdeu no mundo.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Tenha Dó.

Like an wormhole
you don’t make any sound,
yet still forces me
to wait for your call.

Like an wormhole
light won’t come through,
yet hope supports me
pushing me towards you.

Like an wormhole,
you take me into journeys,
although home is here
with your presence.

Like an wormhole
darkness is your essence,
but I can’t seem to find
a reason to leave.