terça-feira, 18 de julho de 2017

Into The Black

Faz tempo demais que as coisas não são diferentes. Anos. Alguns poucos, mas anos. Anos da mesma coisa. Do mesmo desinteresse. Sou sempre eu. Eu, eu, eu, eu, eu. Eu que chamo. Eu que insisto. Se não eu, não é ninguém. Não tem nada. Segue o jogo. Próximo! Olha, sei que já errei bastante, mas não acha que já sofri o suficiente? Não sou de ferro. Longe disso. Sou, no máximo, de plástico. Um plástico já bem contorcido, surrado, daqueles que não dá nem para reciclar direito. Para não ser mentiroso, digo que também tive meus momentos. Mas, ora, de que adianta se tive o tanto de infelicidade? E até mais? De que adianta me dar coisa boa para logo depois me tirar e me deixar num lugar pior do que eu estava antes? É justo? Não acho que seja. É a mesma coisa todas as vezes. Cansa. Dar a cara a tapa cansa e chega uma hora que toda sua cara já está estapeada. E mesmo que você queira, não tem mais espaço. O que faço então? Arranjo outra face? Crio uma nova? Alugo em algum lugar?
Eu só queria um pouquinho de tranquilidade. De paz. De algo recíproco. Não me importo de dar minha cara a tapa, não mesmo. Mas quero que não seja em vão, sabe? Quero que seja pra alguém que se importe. Que pergunte como foi meu dia e fique ouvindo minhas bobagens e minhas piadas e minhas reclamações. Que pense em mim com carinho. Que me coloque lá em cima, nas prioridades. Que me faça sentir como se eu fosse importante. Que não me deixe aqui, dançando com a solidão, já que não tenho outro par. Não peço muito, disso tenho certeza.

É triste perceber que tanto tempo já passou e que, mesmo assim, pouco mudou. Tenho só mais umas experiências para contar. De resto, é o mesmo. Se eu ler as coisas que escrevi no passado, com certeza irei achar diversas semelhanças com o presente. Parece que não saí do lugar. Que fiquei preso no tempo. Se eu quero ir pra frente, não consigo. Agora mesmo estou imaginando quais alternativas tenho, sabe, para quando tudo, inevitavelmente, der errado. E eu voltar à estaca zero novamente. Pessimista? Acho que não. Realista, eu diria (clichê, vá embora!). Tudo bem, sou meio dramático e exagerado, mas acho que quando vou percebendo os sinais, geralmente é porque algo já não anda bem. E, dali pra frente, é só ladeira a baixo. É a terceira ladeira nesse meio tempo, não é? É. A primeira foi um pouco mais longa do que o esperado, mas enfim chegou no fim. A segunda pareceu mais uma montanha-russa do que qualquer coisa, mas sobrevivi. Agora, essa eu já não sei como classificar. Para falar a verdade, não sei se realmente já estou nessa ladeira. É difícil dizer. Muito difícil. É uma interrogação enorme na minha cabeça. Estou perdido e não sei como lidar com isso. Eu não quero que essa seja outra ladeira, mas parece que é. Tudo bem, tudo bem, você me pegou. Como já disse, sou exagerado, e tudo pode não passar de uma grande trama da minha cabeça. Mas, como posso saber? Não há placas no caminho, muito menos sinais. É tudo escuro. Não dá pra dizer se a estrada já está acabando ou se eu nem paguei o pedágio ainda. A única coisa que dá indícios que ainda estou nela é quando passa um carro com o farol aceso. Por alguns segundos sei que a estrada ainda não terminou e que posso continuar. Claro, tal sentimento não dura mais que um suspiro.

quarta-feira, 12 de julho de 2017

i wrote my first song and this is it

Por diversas vezes já admiti aqui meus problemas e minhas falhas. É verdade, eu era desprezível (ainda sou?). Quem importava era eu, mais ninguém. Queria um espaço só pra mim. E, quando a falta de intimidade apertava, queria de volta, do mesmo jeito que era antes. Eu recebi muito e dava muito pouco. Uma escassez de reciprocidade que fico com vergonha até de ler isso enquanto escrevo. Não acho que há uma boa desculpa para quem eu era. Eu era o meu natural. O cru. Ninguém era mais importante que eu. Juro, eu era o maior egoísta da face da Terra. Claro, eu não percebia nada disso. Eu achava que tudo estava nos conformes: eu era bom e fazia coisas boas para pessoas boas. Errado. Erradíssimo. Eu fazia o que me beneficiava. Se estava fora da minha zona de conforto, passava longe. Não havia união do útil ao agradável. Não encontrava com as pessoas no meio do caminho. Queria que elas pegassem o meu, ora essa. "Elas que se encontrem comigo!", pensava.

Às vezes fico pensando se eu sou a mesma pessoa de antes, só que agora atenta com meus defeitos. Não sei se tenho a resposta para tal questionamento, na verdade. Ainda não pude me analisar por esses tempos pois sei que falta algo para eu que possa estar "completo" e confortável o suficiente para ser 100% eu. Sem máscaras ou fingimento. Creio que preciso de alguém para dividir essa minha franqueza, para não ficar pelado sozinho. É muito ruim ter essa preocupação de achar algo em outro, para que você seja enfim você mesmo. Não me leve a mal: compartilhar momentos e memórias com alguém está entre as melhores coisas a serem feitas, mas queria poder ser mais sozinho. Queria não ser horrível em ser sozinho. É doloroso me ver sozinho. Sinto que sempre falta alguma coisa e eu sempre estou esperando por essa coisa. E essa coisa nunca chega. Nunca. Nem quando ela chega, ela chega de verdade (dá pra entender?). É angustiante. Semana passada fui ver alguns sintomas que envolviam o nervosismo e me perguntei: quando que estou nervoso? Francamente, acho que sempre estou nervoso. Ansioso. Nunca estou tranquilo. Quando estou, é só por alguns minutos. Algumas horas, no máximo. Logo depois volto para o meu normal. Um normal que é confuso e cheio de ah-não-tem-problema. Mas tem. Sempre tem.

Song On The Beach

O beijo dela é diferente,
vou nem falar nada.
Mentira, vou sim.
É um daqueles que beijo que não termina
e que muito menos dá pra parar.
Se parar, é pra pegar ar
e logo em seguida emendar um outro.
Gosto de quando ela coloca a mão na minha nuca
e me puxa
e me aperta
e me arranha
e me faz carinho.

Assim que nos beijamos pela primeira vez,
estranhei.
Ela foi logo colocando aquele linguão na minha boca,
sem nem pedir licença.
Porém,
logo percebi que o beijo dela era diferente.
Era sutil,
ao mesmo tempo que tão intenso.
Fiquei perplexo.
O beijo era tão bom que me esquentava,
me fazia querer mais e mais e mais e mais.
É um beijo apaixonante,
digno de cinema.

Sorrio muito com ela.
Sempre quero rir quando tô com ela.
É muito estranho, devo dizer.
Olha para ela e tenho vontade de rir.
Não de rir da cara dela,
a cara dela é linda.
Tem umas bochechas bem redondinhas,
daquelas que dá vontade de apertar até doer.
Só de imaginar como ela fica quando sorri,
vem um calorzinho aqui dentro.
Não é rir, não.
Não é.
É sorrir.
Sorrir de alegria,
como quem não tem problemas,
como se nada importa,
só ela.
E ela nem faz nada pra isso, sabe?
Ela só é ela.

Ela tem os olhos meio puxados
e uma pintinha bem embaixo do esquerdo.
Quando ela ri
e mostra aquele sorriso lindo dela,
os olhos se fecham por completo
e a pinta meio que se perde por ali.
Sua risada não é alta,
é meio que pra dentro,
como se rir fosse um crime.
Se sua risada é um crime,
meritíssimo,
quero prisão perpétua.